quinta-feira, 9 de agosto de 2007

OS LIVROS DAS FÉRIAS: JÁ VÃO DOIS

ANTÓNIO MANUEL VENDA, “O que Entra nos Livros”, 200 páginas, Ambar, 1ª edição: Abril de 2007

Imaginem um romance em que o autor empírico é o narrador, um escritor que mora num monte ali para os lados de Montemor-o-Novo, e que, por imperativos profissionais, passa o tempo a percorrer o país do seu local de residência para a sua terra de origem – Monchique, onde é autarca – e para outros sítios, como Lisboa e Santarém. A história anda à volta dos livros e de uma personagem muito especial de uma das suas obras (“O Medo Longe de Ti”), personagem essa que, por um insondável mistério, salta de romance para romance e deixa um pobre livreiro de Évora – o Sr. Sapinho Júnior – no limiar de uma grave crise de nervos. Depois há uns escritores de papelão – uns respeitáveis, outros nem por isso – que atravancam a livraria do tal senhor de Évora. Um desses escritores, por sinal uma escritora, talvez a menos respeitável de todos, é vandalizada por via de um inestético bigode que alguém desenha no seu perfeito rosto. E fala-se de Gabriel Garcia Márquez, Lídia Jorge, Camilo José Cela, Dinis Machado, Mario Vargas Llosa, José Cardoso Pires, Ondjaki, e tantos outros. Um produtivo diálogo com a Literatura e com a magia dos livros. Não deve ser por acaso que a tal personagem que está sempre a mudar de romance, chama-se justamente “o mágico velhinho”. Grande livro, meus senhores!
( Blogue de António Manuel Venda : www.floresta-do-sul.blogspot.com ).


PAUL AUSTER, “A Noite do Oráculo”, 208 páginas, Edições ASA, 1ª edição: Novembro de 2004

Calculem que um escritor americano ainda jovem, de nome Sidney Orr, descobre numa modesta papelaria de Brooklyn – aliás com um pomposo nome: PAPER PALACE – um enigmático caderno azul de fabrico português com o qual consegue ultrapassar um arreliador período de improdutividade literária. O efeito favorável do caderno português acaba por se esgotar, mas isso é outra história. (Parece que já houve quem andasse à procura destes espantosos cadernos nas papelarias de Lisboa – artigo de Enric Juliana, “La Vanguardia”, Barcelona – tendo até deixado escrito, para que conste, o local onde os mesmos podem ser encontrados: uma certa loja do Largo do Calhariz, ali ao Bairro Alto). A narrativa desenvolve-se em dois níveis: há uma história dentro da história. Segue-se por um caminho em que nada parece ser o que é. Por entre estranhas premonições e singulares comportamentos das personagens, o leitor vai abrindo a boca de espanto ao longo das cerca de duzentas páginas do romance. No final, é o espanto completo.

5 comentários:

bruno cunha disse...

o antónio manuel venda não conheço mas o paul auster sim, e sou 1 fan dele, confesso.
obrigado pelas tuas sugestões!

Carlota Janota disse...

Parecem muito interessantes, Manuel.

Eu aproveitei o facto de estar de férias (pelo menos até 2ªF) para ler um dos livros que me ofereceram no meu último aniversário (que não foram poucos), embora tenha outros tantos na prateleira à espera da minha maior atenção.

Estou a meio de “A verdadeira vida de Sebastian Knight” de Vladimir Nabokov.

"Trata-se da história obsessiva de um homem que perde a sua identidade ao tentar escrever a biografia ficcional de um meio-irmão entretanto falecido."

Não é tanto a história que me está a prender, mas a forma como é narrada – embora já tenha sentido vontade de abandonar o livro. Não pelo senhor Vladimir, esse que nem me ouça, coitado. Mas não imaginam a quantidade de erros ortográficos que tenho encontrado!! Minha nossa!!! Chegou a uma altura em que encontrava um por página, para além de, de vez em quando, me deparar com outros erros no meio das frases (e não se tratam de formas de expressão livre!). Ao início arreliou-me mesmo muito, e estou mesmo a pensar em escrever uma carta à editora. Não se admite!

No entanto.. tentei ignorar o facto e prossegui com a leitura. A minha curiosidade e vontade de continuar a acompanhar os passos deste meio-irmão em busca de informações sobre a vida de um homem que sempre o ignorou, mas que ele venera e acredita conhecer-lhe os pensamentos e o espírito, foi (e tem sido) superior aos pontapés frequentes na nossa língua. Perdoem-me!

MNunes disse...

Sim, Carla, é lamentável essa falta de profissionalismo de quem faz a revisão das obras.
É curioso que o livro de Paul Auster que acabei hoje de ler ("Leviathan"), também anda à volta da escrita de uma biografia. Não a biografia de um meio-irmão, mas a de um grande amigo. Vou tentar pôr uma pequena nota no blogue, mas sem desvendar nada, claro.

Patrícia Grade disse...

vocês não sentem, como eu, facadas no coração quando algo assim vos acontece? Erros ortográficos, pontapés na gramática dita oralmente, são calafrios na nuca, arrepios na pele. O Paulo olha-me de soslaio quando isso acontece com alguém que conhecemos e arregala-me os olhos, porque a minha lingua faz imediatamente uma inflexão em direcção ao céu da boca, para estalar em desagrado. Agora já me vou contendo... mas são facadas... facadas no coração!
Sim! Já estou de volta de uma semana e tal de intenso passeio no norte de Portugal!
Beijocas, já cá volto para contar como foi.

alf disse...

Indomável, interessante o que dizes: é exactamente isso o que sinto quando vejo os cientistas a falarem seguros da matéria negra, dióxido de carbono e outros disparates que tais!!! Pensava que se tratava de alguma anomalia minha, mas já vejo que não...