sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Soltando cachorros de madrugada... a propósito de realidades e religiões literárias

A realidade é algo de indefinível, depende de pontos de vista. E o chão é o que dele fazemos. O terreno da literatura reflecte, quando muito honesto, qualquer coisa do nosso betão. Ou assim imagino.
Não é o contar da vidinha, nem pressupostos de magnificências do eu, apenas se trata de formas de se parir de novo.

Religião parece-me, na sequencia do post abaixo, que seja o recriar sagrado do espaço translúcido do eu. E cultivar aquilo que nos importa.

A mim importam as viagens das minhas palavras, por isso sou deusa sempre do terreno das minhas frases, que muitas vezes são donas de si próprias.

A imaginação não tem, nem deve ter, nomes, cruzes, credos, sacrifícios, sacrilégios, deve ser sempre um verdadeiro prostíbulo ou então, quem sabe, altar de vísceras.

Gosto imenso das vontades do possível em tudo aquilo que impossível é. Por deuses! Há tanta destreza no improvável, no inalcansável, na falta de toque!

Castrar a Literatura é tão absurdo que vale a pena ser touro apenas pela valência do tamanho dos seus tomates. Nunca vi. Suponho que sejam grandes e valentes.

Por isso talvez a vivência da sensibilidade como se literatura fosse só isso. Bocados de alma de deuses. Que tudo podem, e tudo criam, acima de todas as questões terrenas.

Haja libertinagem e liberdade para os santos demónios da literatura. Com Deus numa mão e o diabo na outra, os caminhos da procura, jogam sempre a teu favor.

Não acredito em livros não sofridos, em livros não suados, em livros não apaixonados e amados, que não se fazem como se os amanhãs se matassem.

Acredito profundamente num certo nível de terror perante a criação. E veja-se que eu só crio ainda vozes de abelhas, esperando do seu corpo os seus favos como um faminto pedinte.

Escrever por vezes não custa....arrasa. (Devo mesmo lá no fundo das minhas canices, ser mesmo masoquista. Ou desequilibrada. Os senhores do equilíbrio não precisam da literatura para nada mais do que contemplação)

As noites são sempre madrugadas de mistérios e soltam de todos os matos os seus cachorros...

Existe um mundo próprio para latidos sabem...e é este aqui.

Agradeço que me mordam os ganidos. (risos)

VOG

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Diziam então eles sobre escrita... e eu abaixo assino

“Para uns a literatura já não é arte – é religião. A literatura é território sagrado onde se inventa um chão e nos sentamos com os deuses. O lugar onde, também nós, somos deuses. No momento dessa relação, estamos fundando um tempo fora do tempo. E nos religamos com o universo. É isso que torna num momento divino esse pequeno delírio que é o acto de inventar.”

Mia Couto, “As Visitações de Ondjaki”

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Ainda sobre Livros e Férias

Por vezes acontece uma biblioteca a meio da tarde, com janelas ao sol e coqueiros importados. A mesa cheia de livros que sonho, muitos, tantos livros, com viagens de cada polegar, sem tempo para me esperar partir com eles.
E consegue-se então de maneira aviada ler com gosto de doce de marmelo, Hamina do moçambicano Craveireinha. Há eles histórias que escorregam e nos pegam bem no soco do estômago. «Historia de Sonto: O menino dos jacarés de pau.»
Sabem assim de lugares onde o cheiro é pasto da alma?
Grande Craveirinha! Homem dono de pequenas histórias que possuem aquele beat que diz segura-me, me aguenta só!
…………………………………………oh!..................................................................!..........................................!
E a tarde que acaba mesmo na ponta da página, o carro que me leva e as saudades que ficam de deixar para trás os outros que não li!
Porque te tomei de um lado ao outro Hamina do José, numa mesa metálica sem conforto, sentindo-me qual teu Sonto um velho de seis anos, vai ali fadar ao Craveirinha que da sua água nenhuma sede se emborca.
Como se pode amar tantas letras? Com quanto peito se consegue segurar a felicidade de demasiadas pequenas coisas presas num só agora? Quantos metros de coração serão precisos para que a pessoa depois fique sã?

VOG

Leques prontos para falar!

Como já devem ter reparado, agora neste blog já é possível termos pequenas conversas (virtuais) através de uma funcionalidade que eu adicionei (e que aproveitei adicionei no meu blog). A nossa shoutbox serve para pequenos diálogos ou para deixar recados rápidos. Estejam sempre atentos a ela e escrevam lá à vontade!
Entretanto, neste momento somos 13 membros neste blog (eternamente à espera que a nossa laurita se transforme no 14º membro). A novidade é que temos duas pessoas (a Marta Dineia e a Luísa Lalanda Sanches) nos Leques que foram nossas colegas no 1º LEC.
E agora chega, vamos mas é agitar!

PS: se desejarem, também posso adicionar o vosso blog nas ligações agitadas; é só dizerem (eu e o Alfredo já temos lá os nossos blogs).

domingo, 26 de agosto de 2007

O Rapaz de Cotão

O Rapaz de Cotão – (1ª parte)


Nasceu numa noite sombria,
Numa Primavera desgraçada.
Saltou da mãe para a laje fria
Assim o sino deu a décima toada.

Em frente e de olhar assombrado
A mãe olhava-o com desdém.
O seu filho nascido amaldiçoado,
Era incapaz de que querer bem.

O pai não gostou da brincadeira
E chamou enervado os três doutores
“Consertem depressa esta asneira!
Aquilo não é o meu filho meus senhores!”

E lá estava diante da cama
Alheio ao estertor e à confusão,
Desconhecendo o motivo do drama,
Inocente e pasmado, o Rapaz de Cotão.

Acabaram as férias...

E contrariamente à grande maioria de pessoas "normais", eu estou feliz. Não atino com muito tempo livre, porque fico sempre sem saber o que fazer e a sentir-me um bocado inútil. Férias que vão além de 10 dias são, para mim, uma espécie de martírio. Estranho, mas a verdade é que sou assim desde a escola primária, sempre odiei as férias longas e intermináveis e o deixar aquela azáfama rotineira de amigos e jogos e lições... Gosto de aprender e aprendo mais e melhor com stress. Cada um com a sua mania.
Por isso, fartei-me de trabalhar nas férias e li os livros que se seguem:
- 'Night Mother, de Marsha Norman. É uma peça de teatro e fizeram um filme que, felizmente, tive oportunidade de ver no canal Hollywood, com interpretações espantosas de Sissy Spacek e Anne Bancroft.
- Twelve Angry Men, de Reginald Rose, sobre o sistema legal americano. Também há filme, mas ainda não vi.
- The Collector, de John Fowles, soberbo. História de um psicopata, dá-nos a versão dos acontecimentos do ponto de vista do carrasco e da vítima. Muito bom. Adoro o escritor!
- Harry Potter and the Deathly Hallows, óptimo para quem, como eu, gosta do género. Como todos os livros da saga, muito bem escrito.
- Shalimar, o Palhaço, de Salman Rushdie. Ainda não terminei, vou a meio mas estou a gostar imenso.
Quando terminar este livro quero ver se leio mais Mário Claudio e quero conhecer João Tordo, de quem ainda não li nada mas que me aconselharam.
Ah, e voltarei brevemente para "agitar", claro.
Até breve (porque "até já" paga direitos...) :)
Paula

sábado, 25 de agosto de 2007

OS MAIAS

Em Março deste ano, numa sessão da Comunidade de Leitores Almedina, dizia o escritor Miguel Real (autor de “A Voz da Terra” e “O Último Negreiro”) que Eça de Queirós era para ser lido durante toda a vida. Pela minha parte, reli há pouco tempo “O Mandarim”, novela de cariz fantasista, integrando embora uma crítica social e princípios de moralidade, que marca, com a sua publicação em 1880, a rotura queirosiana com o romance naturalista (“O Crime do Padre Amaro” e “O Primo Bazilio”). Agora, neste Agosto de temperaturas amenas e plácidos encontros com as chuvas estivais, meti-me a revisitar “Os Maias”. Ainda nem cheguei a metade, acabo de fechar a página 251*, final do capítulo VIII, aquele em que Carlos da Maia vai a Sintra, atrás de um rabo de saia, na companhia do maestro Cruges, lá encontrando o sorumbático Eusebiozinho rodeado de espanholas, e o poeta Alencar que fazia uma cura de ares. Neste Alencar parece desenhar-se, embora Eça o tenha negado com veemente ironia, uma caricatura do escritor ultra-romântico Bulhão Pato. O romance é um fresco das contendas literárias da época e dos intricados jogos sociais das classes dominantes. Durante o tempo histórico da Regeneração que a partir de 1851 ficaria marcado pelas obras públicas de Fontes Pereira de Melo, construiu-se uma rede de estradas macadamizadas, lançou-se o caminho-de-ferro e o telégrafo, mas o povo, essa besta de carga que Rafael Bordalo Pinheiro monumentalizaria, não logrou sair do coma profundo do analfabetismo e da miséria em que há séculos vivia mergulhado. O diletantismo da melhor sociedade de Lisboa, desde logo marcado no protagonista Carlos da Maia e no seu amigo João da Ega, prenunciam a acelerada decadência da pátria e os momentos trágicos que as décadas seguintes lhe reservariam: o Ultimato Inglês, a ditadura de João Franco, o Regicídio, a frustrante experiência do republicanismo. Perante a tragédia quase grega da família dos Maias, o que passa em pano de fundo neste romance é essa deriva da pátria e das suas elites, uma caterva de condes e condessas, pares do Reino, negociantes do grande trato comercial e argentários, cultuando Paris e a francesia, acotovelando-se nos estreitos espaços do Chiado e do Aterro, luxando no Hotel Central e no Bragança, nas frisas do S. Carlos e no Café Marrare, em vivências de futilidade e conformismo. Um fulgor baço que não augurava nada de bom.

* Edição “Livros do Brasil”, Lisboa.

1,2,3... Testing

Por "culpa" do Bruno, aterrei por aqui nos "Leques".
Agora é só instalar-me e começar a escrever.
:)

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

A hora do recreio

Em breve haverá mais histórias para os mais pequenos, no meu blog.
;)

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

o poder impossível

Nesta nossa era tecnológica não é com a lanterna que se procura o Humano. Eu uso sobretudo a Net para isso.

Uma coisa que me está a chamar a atenção é que de vez enquando encontro uma senhora casada à procura de aventura extramatrimonial; e normalmente essa senhora tem um casamento onde impera o poder do marido; que normalmente tem uma profissão ligada ao exercício da Autoridade.

A pouco e pouco comecei a perceber: ela não está a trair o marido; o marido submeteu-a unilateralmente à sua autoridade. Ela obedece, não fez um acordo. O casamento não é uma sociedade de iguais, é uma firma uninominal. Ela é, na realidade... escrava!

Então, a aventura fora do casamento torna-se indispensável à sua autoestima. E, como qualquer transgressão a uma autoridade imposta, é algo muito excitante.

Outra caracteristica comum a estas mulheres é que não têm orgasmo com o marido. Mas isto não tem causas fisiológicas - é a protesto delas pela sua condição.

Isto não é um comportamento "feminino". Sempre que o poder é imposto unilateralmente, os submetidos só "obedecem" se não encontrarem forma de o torpedearem.

Em Portugal, as pessoas fugiam muito aos impostos porque este era uma imposição de um Estado que cobrava e não dava satisfações (ainda vai sendo assim...).

Oitenta espanhóis conquistaram o poderoso império Inca de mais de 6 milhões de pessoas. Como foi isso possível??? Nem nos mais alucinantes filmes de ficção se viu jamais tal coisa!!! A explicação: toda aquela gente estava submetida pela pequena tribo dos Incas, os espanhóis só tiveram de tratar da saúde a uma dúzia de Incas; os submetidos devem ter dado graças por os espanhóis os terem livrado do jugo Inca.

O 25 de Abril em Portugal é um pouco a mesma história - um desorganizado grupo de militares numa tosca operação militar foi quanto bastou para cair o Poder não aceite.

Os EUA foram para o Iraque convencidos que isso iria acontecer, que se tratava de um povo submetido a um ditador; não perceberam que esse ditador era o garante da paz naquela sociedade tripartida - tirar o Saddam do poder exigiria a imediata divisão do Iraque em 3 países. Ainda não perceberam isso.

Conclusão: ainda bem que as mulheres casadas com homens que as submetem os enganam! É graças a essa caracteristica do Humano que o Poder de uns sobre os outros se torna, a prazo, impossível.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Dispersos Escrevedores

Tomei a liberdade de roubar o nome (agora pluralizado) do blog do Manuel Nunes para vos apresentar alguns dispersos escrevedores bloguistas. Os dois primeiros são dois jovens muito jovens. Ambos têm 17 anos mas mostram uma maturidade escrevinhadora acima do normal. Reparem então no blog do Pedro Jorge, The Theory of Everything. A sua escrita é intensa, pirotécnica e densa, olhando para a realidade com olhos de camaleão em modo multi-perspectiva. Não é fácil de ler e há pormenores a limar mas está ali o assomo de escritor (num rapaz que, afinal, declara a matemática como o seu grande amor). O outro blog é o da Patrícia Lino, no canto esquerdo do peito.. A Patrícia tem a mesma idade do Pedro mas apresenta uma escrita muito diferente, mais poética e centrada em si mas com um fantástico jeito para nos enrolar e levar em palavras e frases cheias de múltiplos e belos sentidos. O que mais impressiona é que a Patrícia já tem um livro publicado. E faz todo o sentido pois escreve de uma forma muito absorvente, fluida e cativante. Para além disso, a jovem tem outros talentos: desenha muito bem e tira umas óptimas fotos a preto e branco.
Continuando nos nossos dispersos escrevedores, agora viro-me para a prata desta nossa casa em forma de leques espraiados. Começo pelo blog do Alfredo, que aqui todos certamente conhecem. É uma outramargem plena de marés de conhecimento e sóis e inteligência e atómos e sinapses a desbravarem novas ligações por todo o lado. Por vezes sinto-me um tótó total ao ler as suas explicações simples sobre física e metafísica mas no final só tenho de lhe agradecer pela forma clara e objectiva com que nos tenta iluminar (é essa a palavra).
Com o risco de soar a auto-promoção, e antes de passarmos a outro prato forte da casa, sugiro também a leitura do meu blog onde neste momento um lobo e um casal peculiar expõem as suas fragilidades.
Chegamos então ao último blog recomendado: o blog do Manuel Nunes, Disperso Escrevedor. A escrita do Manuel é um caso sério de elegância que tricota personagens e situações de uma forma bastante apelativa e intrincada, fruto de uma boa observação e de uma redacção ainda melhor. É para ler, sempre.
Fico a aguardar os vossos posts e que, com este meu espicaçar, as vossas escritas se estendam até onde vocês quiserem. O infinito é o limite. Mas até pode não ser o limite mas quanto a isso eu não poderei dizer nada. Possivelmente o Alfredo vos poderá dar-vos umas luzes mais claras sobre o assunto dos infinitos e ainda mais além.
;)

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Blog: ponto de situação

Apesar de saber que estamos em pleno verano (e ainda bem), cabe-me informá-los que há 12 pessoas no nosso blog, aguardando-se para breve a entrada da 13ª pessoa (nop, não é nenhum azar!), devendo, para já, os leques ficarem esgotados.
Aproveito também esta oportunidade para me indicarem um link vosso que queiram ver inserido no novo item Ligações Agitadas. Eu sugiro o vosso blog pessoal (caso o tenham) ou então outra ligação à vossa escolha.
Obviamente, qualquer sugestão que queiram lançar para os Leques estes estarão sempre muito atentos a elas.
Muito obrigado e continuação de bom verão.

As minhas músicas

Devo confessar que durante boa parte da minha vida a música teve uma importância maior ou igual que a leitura. Desde muito cedo lembro-me pelo meu fascínio pela então música ye-ye (nunca gostei deste nome como catalogação de alguma música dita pop), reminiscências dos meus tempos de criança em Angola, onde uma banda de soldados se entretia a fazer covers das bandas que estavam a dar na altura (pelo menos tenho essa vaga ideia). Acho que por isso nunca fui muito fan da chamada música infantil apesar de que me lembro bem do fraquinho que tive por um agrupamento espanhol que dava pelo nome de A Pandilha. O seu grande êxito salvo erro chamava-se Atxilipu (eu bem googlei mas não descobri nada sobre a música ou sobre o certamente efémero grupo). E, de repente lembrei-me da música Popcorn, um dos ícones da minha pré-adolescência e que tomou conta de todas as rádios do país (que na altura eram poucas)! Quem se lembra? Escutem-na aqui, numa versão encontrada no youtube (wherelse?). Ok, continuarei em breve a falar mais sobre as minhas músicas. E as vossas, quais são?

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

OS LIVROS DAS FÉRIAS

PAUL AUSTER, “Leviathan”, romance, Edições ASA, 272 páginas, 1ª edição: Outubro de 2003

Leviathan é o nome de um monstro bíblico simbolizador do mal e o título de um célebre tratado do filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) sobre a origem do Estado e os fundamentos teóricos do poder político.
O romance tem como epígrafe uma frase do ensaísta norte-americano Ralph Waldo Emerson (1803-1882): “Todos os Estados existentes são corruptos”.
O monstro da corrupção e da degenerescência social e política pode medrar numa democracia “perfeita” como a dos Estados Unidos.
Estamos na era Reagan, e um “clima de americanismo fanático e imbecilóide” perturba profundamente um homem que na juventude se havia negado a combater na guerra do Vietname, tendo cumprido, por esse crime, uma pena de prisão de dezassete meses. Esse homem chama-se Benjamin Sachs, é escritor, e publicou um grande livro – “The New Colossus” – uma miscelânea de ficção e historiografia onde entram personagens históricas, como Walt Whitman ou Sitting Bull, e outras provindas directamente de grandes ficções literárias, como Raskolnikov, protagonista do romance “Crime e Castigo” de Dostoiewsky. Alguns críticos viram em “The New Colossus” um escrito clamorosamente antiamericano.
A partir de uma sucessão de experiências traumáticas, Benjamin Sachs abraça o projecto de mostrar à sociedade do seu país os perigos que cercam a democracia, e tal desígnio leva-o a uma morte violenta.
A biografia de Benjamin Sachs é-nos apresentada pelo seu amigo Peter Aaron, escrita numa corrida contra o tempo, enquanto o FBI procedia a minuciosas investigações sobre as circunstâncias da sua morte.
Neste romance de Paul Auster viajamos pela consciência profunda de uma América inquieta, onde se divisam os fantasmas da liberdade, a complexa malha das relações interpessoais, a fidelidade e a duplicidade nos jogos do amor, o desespero e a esperança.
Não adianta dizer mais, o melhor, mesmo, é ler.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Filmes das férias

Aproveitei o facto de estar de férias para tirar a barriguinha da miséria de todos os prazeres que me estão condicionados quando o trabalho aperta..

.. acordar sem despertador, ler o que me apetece, passear e conhecer coisas novas (já agora, vale a pena visitar a colecção Berardo no CCB), caminhar à beira mar, estender-me ao sol, ir com o vento e com as marés. Tirar fotografias, beber copos com os amigos e perder-me em conversas sem olhar o relógio.

Aproveitei também para me actualizar em termos cinematográficos e recuperar um pequeno vício.

Ora vejam.. o que eu andei a ver:

Body Rice de Hugo Vieira da Silva (em reposição única no Nimas), que retrata a experiência de alguns adolescentes alemães enviados para o sul de Portugal (em meados de 80), ao abrigo de projectos experimentais de reeducação social.

Torre Bela de Thomas Harlan, sobre a ocupação da Herdade da Torre Bela (Ribatejo) a 23 de Abril de 1975 – 1 ano após a revolução dos cravos.

Trata-se de um registo extraordinário, que reúne imagens captadas por câmaras que acompanharam o processo de revolta de um conjunto de ex-trabalhadores agrícolas (desempregados e sem recursos) que acabaram por invadir e ocupar a herdade do Duque de Lafões. Os discursos de revolta, a organização do movimento, a formação da cooperativa, as discussões entre a população e as negociações constantes entre os seus representantes e o MFA, a confusão das vozes, as roupas, os penteados, a própria linguagem de personagens reais, humildes e pobres, a nossa “Grândola, Vila Morena” que fervilhou na minha pele e encaracolou-me os pêlos, fazendo-me perceber ainda melhor o sentido da sua força.. todas essas imagens e esses sons fizeram-me recuar no tempo. Tempo que, afinal, só conheço pelas histórias contadas.

Death Proof de Quentin Tarantino, que recorda os filmes de terror dos anos 70 e reúne mulheres jovens e bonitas, carros, alta velocidade, acção, terror, sangue.. e um duplo de cinema com uma forma muito particular de satisfazer o seu desejo carnal.

Confesso que, a meio do filme, não me passou pela cabeça recomendá-lo a quem quer que fosse. Toda a violência, que começou a surgir a partir de determinado momento, desencadeou (em mim e, pelo que percebi mais tarde, na maioria dos espectadores) uma sensação incómoda de revolta e ansiedade. No entanto, ao chegar a um certo estado avançado de instabilidade e transtorno – prevendo já o novo culminar de uma situação de muito sangue jorrado de fragmentos corpóreos despedaçados pela violência de um psicopata assassino – a história acabou por trocar-me(-nos) as voltas, dando lugar a um humor sarcástico que resultou em aplausos finais numa sala de cinema do Oeiras Parque, vejam só!

The Simpsons: the movie de David Silverman.

Não precisa de apresentações!

Já era fã da série televisiva, embora não tivesse grandes expectativas relativamente ao filme. Fui ver para me rir. E ri, muuuito!!! As personagens, no grande ecrã, ganharam vida nova e a particularidade disfuncional desta família tornou-se ainda mais evidente, conduzindo a um humor mais apurado, com direito a gargalhadas sinfónicas partilhadas por toda a sala.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

OS LIVROS DAS FÉRIAS: JÁ VÃO DOIS

ANTÓNIO MANUEL VENDA, “O que Entra nos Livros”, 200 páginas, Ambar, 1ª edição: Abril de 2007

Imaginem um romance em que o autor empírico é o narrador, um escritor que mora num monte ali para os lados de Montemor-o-Novo, e que, por imperativos profissionais, passa o tempo a percorrer o país do seu local de residência para a sua terra de origem – Monchique, onde é autarca – e para outros sítios, como Lisboa e Santarém. A história anda à volta dos livros e de uma personagem muito especial de uma das suas obras (“O Medo Longe de Ti”), personagem essa que, por um insondável mistério, salta de romance para romance e deixa um pobre livreiro de Évora – o Sr. Sapinho Júnior – no limiar de uma grave crise de nervos. Depois há uns escritores de papelão – uns respeitáveis, outros nem por isso – que atravancam a livraria do tal senhor de Évora. Um desses escritores, por sinal uma escritora, talvez a menos respeitável de todos, é vandalizada por via de um inestético bigode que alguém desenha no seu perfeito rosto. E fala-se de Gabriel Garcia Márquez, Lídia Jorge, Camilo José Cela, Dinis Machado, Mario Vargas Llosa, José Cardoso Pires, Ondjaki, e tantos outros. Um produtivo diálogo com a Literatura e com a magia dos livros. Não deve ser por acaso que a tal personagem que está sempre a mudar de romance, chama-se justamente “o mágico velhinho”. Grande livro, meus senhores!
( Blogue de António Manuel Venda : www.floresta-do-sul.blogspot.com ).


PAUL AUSTER, “A Noite do Oráculo”, 208 páginas, Edições ASA, 1ª edição: Novembro de 2004

Calculem que um escritor americano ainda jovem, de nome Sidney Orr, descobre numa modesta papelaria de Brooklyn – aliás com um pomposo nome: PAPER PALACE – um enigmático caderno azul de fabrico português com o qual consegue ultrapassar um arreliador período de improdutividade literária. O efeito favorável do caderno português acaba por se esgotar, mas isso é outra história. (Parece que já houve quem andasse à procura destes espantosos cadernos nas papelarias de Lisboa – artigo de Enric Juliana, “La Vanguardia”, Barcelona – tendo até deixado escrito, para que conste, o local onde os mesmos podem ser encontrados: uma certa loja do Largo do Calhariz, ali ao Bairro Alto). A narrativa desenvolve-se em dois níveis: há uma história dentro da história. Segue-se por um caminho em que nada parece ser o que é. Por entre estranhas premonições e singulares comportamentos das personagens, o leitor vai abrindo a boca de espanto ao longo das cerca de duzentas páginas do romance. No final, é o espanto completo.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Ponto de situação

Neste momento há 11 lequianos que já aceitaram o convite para serem participantes activos deste blog e há apenas 2 ainda não o fizeram. A grande novidade é que fui contactado pela Marta Dineia (do LEC1) para entrar neste blog, ao que obviamente acedi. Agora é só esperar pelas colaborações de todos (e esperar também que mais lequianos se juntem a nós). Enquanto isso não acontece, gozem o verão.
;-)

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Automóveis de ontem

A propósito deste meu post no meu blog, encontrei este delicioso link. Vale a pena ver, nem que seja para descobrir as diferenças de design entre os carros dos anos 60/70 e os de hoje. Vrrrumm, vrrrumm!

Bate Coração

E porque são mesmo agitados estes Leques, espraiando-se em criatividades, descubram aqui que o Sol tem um Coração e o que Raposas e Coelhos têm a ver com isso!

sábado, 4 de agosto de 2007

Today is not a good day

chove na minha alma
fico à porta olhando o tempo
nevoar

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Apenas para soprar

Ali pelos lados do cabo da roca, há um mar do mais bonito que existe que é um abismo profundo de azul, e bem no meio repousa um enorme penedo onde as ondas descançam. Não são muitas as vezes em que penso no nome de oceano. O mar é mais pequeno, mais divertido, mais algo com que peitamos. O oceano não. O Oceano...desintegra-te.
Sabem como se move o oceano ali pelos lados do cabo da roca?
Como lava.
Chama-te como o diabo: Salta, salta...
Se eu não soubesse que se morre, e em mim não morasse o susto, aquele jingar me convencia. Eu saltava crente que poderia ser um peixe voador.

Mas valeu deixar cair a mente lá em baixo. Está fresca e desnorteada, sem nomes, sem conceitos, sem pedantismos, sem noção de centro, sem cadastro. Um dia desses quando der, vamos lá busca-lo. Eu trago-me e voces abandonam-se. Que tal?

Boas brisas.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Música de férias

Ao contrário de férias passadas, este ano não levei atrás nem uma selecção de cd's, nem a aparelhagem móvel (vulgo garrafão electrónico). Mesmo assim não foram umas vacanças sem sons. Aliás, ouvi uns bem jeitosos, tocados pela banda da foto (os desconhecidos Tugadixie). Vi-os ao ar livre, no largo da acolhedora Biblioteca de Chaves, numa gelada noite de Julho. Os Tugadixie são 6 rapazes da zona do grande Porto e que se divertem (e nos divertem) a tocar um pouco de tudo no característico som das bandas de estilo jazz dixieland. De James Brown a Marco Paulo, de Jorge Palma e George Michael, passando pelos YMCA ou até por Henry Mancini, são um grupo muito louco e gozado, onde impera o bom humor e a interacção com o público. Não os percam! O problema é que esses tugas para além de serem desconhecidos também não se dão a conhecer pois não têm nem site nem contacto visível (eu pesquisei no Google). E, continuando no ritmo, quem vai de férias que ouça frescas e deliciosas batidas. O Verão pede isso.

Uma longa história

Encontro de 2009

Encontro de 2008

Encontro de 2007